quarta-feira, 30 de abril de 2008

Moral e Ética

Moral e Ética
Por Caio Feijó
Psicólogo, especialista em Clínica e Educação.

Quando falamos em ética, estamos nos referindo a bons costumes, bons valores, válidos para todos os seres humanos, como amor, paz, bondade e tolerância, entre outros tantos. Costume em grego é “ethos” (ética) e em latim significa “mores” (moral). Talvez esteja aí a origem da costumeira confusão que fazemos entre moral e ética.
A ética é a teoria ou a ciência do comportamento dos homens em sociedade. A capacidade ética tem por objetivo a reflexão crítica do ato moral, ou seja, sobre o que é (ou pode ser) errado. Assim a ética não é moral. Moral é o objeto de estudo da ética, diz respeito a costumes, valores e normas de conduta de cada sociedade (prática).
A ética, então, pode ser o regimento, a lei do que seja ato moral, o controle de qualidade da moral. Daí os códigos de ética servem para as diferentes micro-sociedades dentro do sistema maior. A moral por sua vez, de acordo com Kant, “é aquilo que precisa ser feito, independentemente das vantagens ou dos prejuízos que possa trazer”. Assim, quando praticamos um ato moral, poderemos até sofrer conseqüências negativas, pois o que é moral para uns pode ser amoral ou imoral para outros. Veja o exemplo.
A família do Sr. João tem o costume de tomar banho junta. Pai, mãe e filhos (meninos e meninas) sempre tomaram banho juntos. É cultural, dentro da casa, a exposição do corpo nu entre eles sem que haja conotações de sexualidade ou de promiscuidade. No entanto, seus vizinhos, regidos por uma cultura totalmente avessa a esse tipo de comportamento, quando ficaram sabendo do banho coletivo familiar daquela família, passaram a denominá-la de imoral. Esse simples e pequeno exemplo pode justificar o que foi afirmado acima: que ações morais, para uns, podem ser imorais para outros. Não há como definir quem está “certo” ou quem está “errado”, é uma questão cultural familiar, de uma micro-sociedade. Duas pessoas podem ter valores diferenciados a respeito do que seja ato moral ou imoral, é uma questão de consciência pessoal. Daí o conceito de Kant sobre “aquilo que precisar ser feito”.
Para qualificar, ou seja, para normatizar o que é ou não moral em micro ou macro sociedades, instituíram-se os códigos de ética. Todas as sociedades têm o seu. Pode ser documentado com parágrafos e capítulos ou pode ser, no caso de algumas culturas, uma forma de viver aceita pelos seus membros. Na Índia existem algumas aldeias em que os mais velhos mutilam sexualmente as meninas ainda crianças extirpando o seu clitóris. Não está escrito em lugar algum que isso deve ser feito, mas todos, apesar da revolta do resto da humanidade, mantém essa atitude em nome de um ato ético que diz que, naquela sociedade mulher não pode sentir prazer.
Os códigos de ética, então, servem para definir o que é e o que não é ato moral. Em nossa sociedade capitalista que valoriza a posse de bens materiais e do lucro em detrimento dos valores morais, o que vale é não quebrar o código de ética estabelecido. Assim, quando deputado, senador, prefeito ou vereador aumenta o seu salário em 300%, argumenta sem constrangimento que “a legislação nos permite a manobra”, colocando a culpa num regimento, estará sendo ético, mas imoral ao mesmo tempo.
A democracia, mal interpretada no seu objetivo, autoriza a sociedade, de modo geral, a usar de qualquer forma manipulativa, que não atente aos códigos de ética como os regimentos e código penal, por exemplo, para acúmulo de bens. A minoria apoiada pelos políticos, pelos capitalistas, enfim, por quem detém o poder, cada vez ganha mais e, conseqüentemente, acumula mais. Por outro lado temos a maioria dessa sociedade que não possui essas habilidades e oportunidades, ou não interessa por elas. Representam o contraponto das diferenças sociais, no qual algumas pessoas possuem o que não conseguiriam consumir em toda a sua existência e por isso esbanjam adquirindo carros de milhões e casas suntuosas, desvirtuando por completo o conceito de ética representar bons costumes e bons valores, e por outro lado indivíduos mantendo suas famílias com salário mínimo e vivendo em uma subvida, na miséria. É ético? Sim! Pois não viola as leis do sistema. É moral? Não! Pois viola os direitos humanos em toda a sua essência. Conseqüências? Muitas! Principalmente no quesito, aumento do comportamento anti-social como corrupção, sonegação, agressividade e violência, o que resta a muitos como recurso para demonstrar a sua indignação.