sexta-feira, 23 de maio de 2008

Adoração ou Show?



“Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”(Jo.4:24).


O que é adoração?

“A atividade de glorificar a Deus em sua presença com nossa voz e com nosso coração”. Wayne Grudem
"Uma reação reativa (reagente) a Deus, pela qual declaramos sua dignidade ... Adoração não é simplesmente um clima; é uma reação ... é uma declaração". Ronald Allen e Gordon Borror
O cristianismo moderno parece estar comprometido com a idéia de que Deus deve dar algo para nós... mas precisamos compreeender o equilíbrio dessa verdade – devemos render honras e adoração incessantes a Deus. Esse desejo consumidor e altruísta (dedicação desinteressada; egoísta) de dar a Deus é a essência e o âmago deste culto.
Nas Escrituras o adorador é chamado a conceder, o receber de Deus é conseqüência disso.
“Tributai ao SENHOR, ó famílias dos povos, tributai ao SENHOR glória e força.Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome; trazei oferendas e entrai nos seus átrios (Sl 96:7-8).
Proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (Ap.5:12).
É isso. A essência da adoração é dádiva. Quem adora atribui, celebra. Celebração essa que não se resume em cantar hinos sem meditação. Os hinos têm de elevar o coração do adorador a Deus; pela mensagem que foi transmitida (Dt. 10:12,13).

O que é Show?
O dicionário Aurélio define show como “um espetáculo de teatro, rádio, televisão etc., geralmente de grande montagem, que se destina à diversão, e com a atuação de vários artistas de larga popularidade, ou às vezes de um só”. Ora, nessa definição, nada combina com o significado de culto, que o mesmo dicionarista diz ser “adoração ou homenagem à divindade em qualquer de suas formas, e em qualquer religião”. “A igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade, melhorar auto-estima ou facilitar amizades, mas para adorar a Deus. Se falharmos nisso”, conclui Philip Yancey, “a igreja fracassa”.
O lugar da reverência.
Vivemos um tempo de familiaridades demais (abusos) com Deus, onde parece não haver o devido temor. A adoração verdadeira só procede porém de quem tem noção do quão exaltado é Deus (Sl. 8:9; 29:1,2;104:1). Só com esta preocupação é que se presta um verdadeiro culto. Sinceramente, muito do que se tem feito nas igrejas hoje, e que se chama adoração, não tem contribuído para esta atitude de reverência ao Senhor. Às vezes se tornam banais, cantando coisas que até desrespeitam Deus, ou usando palavras de tratamento impróprias. Deus parece mais como colega de escola, o vizinho da esquina, do que o Rei do Universo. Talvez o escritor de Hebreus já pensasse nisso quando alertou:
Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor (Hb.12:28, vd.2 Co.7:1; 1Pd. 1:17).

Sacrifícios de Louvor
No Antigo Testamento os sacrifícios oferecidos a Deus não podiam ter defeito algum (Lv. 22:19;Dt.15:21; 17:1). O povo foi duramente repreendido por Deus ao oferecer sacrifícios imperfeitos (Ml. 1: 6-14). A adoração, o louvor é hoje um sacrifício voluntário do cristão a Deus (Hb. 13:15), portanto, deve-se ter muita atenção em como está sendo oferecida esta adoração, em vista das leis de perfeição que regulam os sacrifícios. A adoração está entre as obras do cristão que serão julgadas no tribunal de Cristo (1Co.3:13b), julgamento este que vai ser segundo a nossa motivação do coração (1Co 4:5). Será que hoje o que se chama de louvor e adoração é realmente o melhor para Deus? Ou a má qualidade das letras e das músicas atuais está mais para aquilo que é mais fácil, que vende bem, que “não custa nada” (cf. 1Cr.21:24)?
O Modelo bíblico.
Na adoração o importante é o que Deus acha, não o que o adorador acha. Russell Shedd é muito feliz quando diz:
Em diversas partes do mundo surge um volume notável de literatura como objetivo de tornar a adoração cristã mais contemporânea, mais relevante e contextualizada. Quando o interesse dos que congregam para adorar se torna alvo prioritário, o culto forçosamente ganha características de entretenimento. A experiência do adorador recebe prestígio acima da do criador. Mas o que de fato é relevante é o que Deus acha de nossos louvor, orações, mensagens e ofertas. É a “religião-show”:
Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas, rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.Sinceridade é essencial para a adoração, pois o culto hipócrita é fortemente confrontado por Deus ( Is. 1: 11-15; Os. 6: 4-6; Am. 5: 21-24), mas a sinceridade só não basta. Em matéria de adoração o modelo quem fornece é o próprio Deus (Dt. 4:2; 12:32). O homem não está livre para adorar conforme sua própria vontade, mas apenas em “verdade”, isto é, de acordo com os mandamentos de Deus.
O lugar de Deus.
Com as novas técnicas de adoração voltadas para a satisfação do adorador, que crescem e são inventadas a cada dia o lugar de Deus tem sido usurpado do processo de adoração. Incrível, mas é verdade! Muitas vezes o que se está fazendo não é adoração, mas satisfação pessoal. A criatura tomou o lugar do Criador.

Cantar cânticos com palavras sem sentido, fazer gestos que não dizem nada, aceitar fórmulas e rótulos vazios, que em nada edificam a vida não é culto, não é adoração, é um arremedo (imitação).
Por ocasião do avivamento acontecido em Jerusalém sob a liderança de Esdras e Neemias, logo após o retorno dos exilados, gastavam-se três horas para a leitura da Lei do Senhor e mais três horas para confissão de pecados e adoração (Ne 9.1-5).
Que diferença dos dias de hoje, não? Ou somos muito melhores do que os cristãos do passado e os israelitas, ou então o evangelho está se desfigurando, passando a ser mero entretenimento.
Temos o hábito de chamar o ministério de música como “Ministério de Louvor e Adoração”. Na verdade, colocamos juntos essas duas palavras, como que sendo um nome e um sobrenome.
Raramente paramos para pensar nas diferenças complementares entre elas. Assim, vejamos as definições:
Louvar – lit. “Barulho” – elogiar, gabar, exaltar, enaltecer, glorificar, aprovar, aplaudir, bendizer. Heb. “halal” – 160 vezes no Antigo Testamento – fonte de “hallellujah”, que pode ser traduzido por “Louvado seja Yah” (Yah como abreviação de Yaweh – aquele que faz as coisas serem”)Referências: Ed. 3:10 –11; 2 Sm 6; Salmos
Adorar – lit. “Prostrar-se” – reverenciar, venerar, amar extremosamente, idolatrar, ter grande predileção a, cultuar, curvar-se, cair com o rosto em terra, render-se. Heb. “shachac” – 170 vezes no Antigo Testamento – denota prostrar-se diante de autoridades, mostrando significado cultural (Davi X Saul; Rute X Boaz; José X feixes...) É usado como forma comum de se chegar diante de Deus em adoração (Jr. 7:2).
Gr. “proskuneo” – pros (na direção de) + kuneo (beijar)
Referências: Gn 22:5; 24:26, 48; Ex 4:31, 12:27, 34:8; Js 5:14; 2 Cr 29: 29-30; Ne 8:6; Jô 1:20; Sl 95:6, 132:7; Mt 2:2, 11; Mc 15:19; Jô 4:22-24; Fp 3:3; Ap 5:14, 7:11, 11:16, 14:7, 15:4, 19:4, 10, 22:8-9.

Veja um Paralelo entre LOUVOR e ADORAÇÃO:
LOUVOR: Motivado na alma por um impulso de receber do Senhor
ADORAÇÃO: Motivado no espírito por um impulso de dar ao Senhor
LOUVOR: Pode ser comunitário
ADORAÇÃO: É individual
LOUVOR: Brota das emoções
ADORAÇÃO: Brota da devoção

LOUVOR: Pelos feitos de Deus
ADORAÇÃO: Pelo que Deus é
LOUVOR: Pelos presentes de Deus
ADORAÇÃO: Pela presença de Deus

LOUVOR: É uma expressão de vida
ADORAÇÃO: É um estilo de vida
LOUVOR: É circunstancial
ADORAÇÃO: É incondicional
LOUVOR: Aprecia os feitos de Deus
ADORAÇÃO: Vive para Deus
LOUVOR: Pode ser distante
ADORAÇÃO: Só ocorre na presença
LOUVOR: É mais exuberante, enérgico, movimentado, barulhento, com mais palavras
ADORAÇÃO: É mais sóbrio, com menos movimentos, menos palavras, inclinando-se a cânticos espirituais e silêncio

Não devemos nos equivocar que é mais espiritual adorar, pois o que aprendemos é que ambos se complementam. Assim, devemos ter a liberdade de louvar com expressões espontâneas, enérgicas ao mesmo tempo de adorar com cânticos mais contemplativos.
Na verdade, a Bíblia nos indica que existem várias expressões de louvor e de adoração, tais como através da oração, cânticos, confissão, ofertório, artes em geral, pregação, ceia, batismo e do próprio exercício do ministério.
Não importa o exterior, sejam palmas, mãos levantadas, prostrando-se ou com danças. Deus olha o coração, pois diz que um coração contrito não desprezará.
Veja abaixo mais referências bíblicas:
Com palmas – Sl 47:1, 98:8; Is 55:12
Com mãos levantadas – Sl 63:4, 77:2, 134:2, 141:2; 1Tm 2:8; Hb 12:12
Com júbilo – Sl 27:6, 35:27, 47:1, 81: 1, 2, 89:15, 95:1, 98:4, 107:22, 118:15, 132:16; 1 Sm 18:6, 7; Ex 15:21; Ne 12:43
Prostrando-se – Gn 17:3; Ez 43:3; Ap 4:10; Lv 9:24; Dt 9:25; Sl 95:6, 99:9; 2 Cr 29:28
Com danças – 1 Sm 18:6; Ex 15:20, 2 Sm 6:14, 15; Jr 31: 1-4, 13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática; São Paulo: Vida Nova, 1999.
ALLEN, Ronald e BORROR, Gordon. Teologia da Adoração; São Paulo: Vida Nova, 2002.
SHEDD, Russell P. Adoração Bíblica; São Paulo: Vida Nova, 2001.
JR, MacArtur, John. Redescobrindo O Ministério Pastoral; Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
RAMOS, Ariovaldo. Igreja e eu com isso?; São Paulo:Sepal, 2000.
BROWN, Archibald. “ Entretenimento- Uma Estratégia do Inimigo” em Fé para Hoje; São Paulo: FIEL.
Charles Spurgeon, citado em JR. MacArtur,John F. Com Vergonha do Evangelho; São Paulo: FIEL, 1997.
http://adorar.net/
http://vivos.com.br/278.htm
http://gracaplena.blogspot.com/



Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Josué...

Gotei muito deste texto!!!
Extremamente esclarecedor. Eu não tinha menor conhecimento da tal distinção entre louvor e adoração. Muito interessante!!
Então, Louvemos e Adoremos ao Senhor, de todo nosso coração!!Amém??!