domingo, 26 de fevereiro de 2012

O MELHOR VINHO



Jesus vai a um casamento
“Dois dias depois, houve um casamento no povoado de Caná, na região da Galileia, e a mãe de Jesus estava ali. Jesus e seus discípulos também tinham sido convidados para o casamento. Quando acabou o vinho, a mãe de Jesus lhe disse:
- O vinho acabou.
Jesus respondeu:
- Não é preciso que a senhora diga o que eu devo fazer. Ainda não chegou a minha hora.
Então ela disse aos empregados:
- Façam o que Ele mandar.
Ali perto estavam os seis potes de pedra. Em cada um cabiam entre oitenta e cento e vinte litros de água. Os judeus usavam a água que guardavam nesses potes nas suas cerimônias de purificação. Jesus disse aos empregados:
- Encham de água estes potes.
E eles os encheram até a boca. Em seguida, Jesus mandou:
- Agora tirem um pouco da água destes potes e levem ao dirigente da festa.
E eles levaram. Então o dirigente da festa provou a água, e a água tinha virado vinho. Ele não sabia de onde tinha vindo aquele vinho, mas os empregados sabiam. Por isso ele chamou o noivo e disse:
- Todos costumam servir primeiro o vinho bom e, depois que os convidados já beberam muito, servem o vinho comum. Mas você guardou até agora o melhor vinho.” (Jo 2: 1-10 – NTLH)
O evangelho segundo João nos presenteia com esta belíssima descrição do primeiro milagre público feito por Jesus em seu ministério terreno.
Que coisa bela, que tenha sido assim: JESUS VAI A UM CASAMENTO! No contexto de hoje, podemos contar nos dedos a quantos casamentos Jesus tem de fato ido!
Em nossos dias, os preparativos para o casamento são infindáveis: o vestido, as damas, a festa, o regime, os convites, os “bem-casados”, as músicas... Casamento é evento, e na vida de algumas pessoas, o evento mais marcante e inesquecível. Tudo isso é muito bom, e compreensível, é claro. Vivemos numa sociedade que, em que pese toda a mudança de costumes relacionais, ainda parece exibir, no porte cada vez mais portentoso das cerimônias de casamento, uma esperança frágil de que algo possa mudar, e os casamentos tenham mesmo  um desenrolar feliz e saudável, até que a morte os separe.
Naquele tempo, os casamentos também eram eventos de grande importância. Uma festa de casamento poderia durar até uma semana, com os convidados comendo e bebendo em celebração aos noivos que ali se uniriam.
A Bíblia nos diz que houve um casamento na região onde Jesus morava, e Ele havia sido convidado. Estando na festa, uma trágica notícia: o vinho acabara!
O que fazer quando, no casamento, o vinho acaba? Vinho, poderíamos dizer, é sinônimo de alegria!
Quantas vezes, no decorrer dos casamentos, vai-se findando a alegria, que, antes, compartilhávamos com todos? Em que lugar vão ficando os momentos felizes, e para onde vamos deslocando nosso olhar e cuidados? Somente àquilo que falta? Ao que não conseguimos? Ao que perdemos?
Vejamos: casar-se supõe perder um pouco. Precisaremos deixar amigos por um tempo, compromissos, alguns hábitos, a estadia sem fim na casa dos pais,  visto que agora o compromisso principal será o de construir essa habitação de vida inteira a que nomeamos CASAMENTO.
A instituição do casamento se dá no Jardim do Éden:
“Então, da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou a mulher, e a trouxe ao homem.
Disse o homem: Esta agora é osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada mulher, pois do homem foi tomada.
Portanto deixará o homem a seu pai e sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne.” (Gn 2:22-24)
Para o casamento, Adão precisou ceder uma costela, e Eva submeter-se a ser nomeada por ele. Mas, apesar das perdas havia, no casamento, a promessa da completude:  Serão os dois uma só carne.
Ali, na presença de Deus, ainda sem um sacerdote ou testemunhas, na intimidade solitária de apenas dois: Adão e Eva, nos diz a Bíblia: “Conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu...”. Na intimidade de dois, homem e mulher, o milagre da vida se manifesta!
Voltemos à Caná. Naquele casamento, o vinho era parte importante, símbolo da alegria compartilhada pelo casal. Jesus Cristo não se abstém da importância e do significado deste fato para os noivos, e se dispõe a ajudá-los.
Manda então trazer os potes de água e enchê-los. Os potes não eram quaisquer. Eram os potes cuja água armazenada era utilizada para as cerimônias de purificação. Podemos pensar um pouco sobre esse detalhe e adotá-lo como metáfora. A água na qual nos banhamos, a água da qual necessitamos cotidianamente, a água com a qual nos preparamos para encontros importantes, foi também a base para a transformação em vinho e a volta da alegria no casamento.
Se a água do dia a dia é tudo o que temos, e é o melhor que temos alcançado fazer em nosso esforço próprio para construir nossos casamentos, ao convidarmos Jesus Ele certamente poderá nos ajudar, transformando-a em vinho. No melhor vinho.
É bonito ver um casal se preparando para o casamento. É emocionante participarmos da cerimônia e das festas. Mas é tão triste quando percebemos que todo o empenho, todo o vinho, todo o estoque de alegria parece ter sido gasto nos primeiros momentos! Mal findou-se a Lua de Mel, e lá estão os noivos, há uma semana tão felizes, agora lamentando sua nova vida e realidade.
Em muitos casamentos, os potes estão vazios. Parece que na ânsia de preencher a falta causada pela saída de casa, pelo abandono de hábitos, pela perda da vida livre, sem satisfações, o pobre casal se vê preso numa competição perversa de “quem tira mais do outro”. Então, se eu não estou feliz, você também não poderá estar. Se eu sinto falta da minha família, eu te proíbo de ver a sua. Se a sua família não me acolhe, eu também não acolherei você. Se agora estou presa em casa por causa dos filhos, você também está proibido de ter prazer!”... E por aí vão se fazendo os saques nos potes de água do outro, até que estejam tão vazios, que  não se possa tirar mais nem uma gota de afeto.
No casamento de Caná, Jesus disse aos empregados que enchessem os potes de água. A água deve preceder o vinho. A água que trago das fontes em que bebi, a água que lava minhas impurezas, a água que mata a minha sede e a sede do outro, é necessária para chegarmos ao vinho da alegria. Água, elemento cotidiano e vital.
No decorrer da festa, muito vinho se bebera. Mas agora, já no final, o melhor vinho seria servido.
Na caminhada a dois, podemos experimentar  muitas alegrias. Como no casamento, muito vinho já havia se servido.
Mas é na maturidade do amor construído, que reconhece faltas e perdas, que sabe-se por vezes imensamente vazio, que alcança ver o outro não como um saqueador do meu desejo, mas como alguém com quem o meu desejo pode ser completo, ainda que por momentos apenas; é na maturidade que se alcança ao caminhar juntos a segunda milha, que o melhor vinho pode ser apreciado.
O milagre de Jesus em Caná se atualiza em cada casamento que resiste, sem abrir mão da alegria, aos incontáveis momentos de sequidão.

Maria Beatriz Versiani
Psicóloga Clinica
Psicóloga Associada ao CPPC - Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos
http://tizaversiani.blogspot.com
(37)8816.0585

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