sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pesquisas com células-tronco embrionárias são autorizadas


Sexta-feira, 30/05/2008
Os ministros do STF aprovaram a continuidade das pesquisas em uma sessão tensa. As células-tronco de embriões podem ser a solução para doenças que, até então, não tinham cura.
Diante desta notícia escolhi uma entrevista, feita com
Cléber Fontoura Marcolan pela equipe do Instituto Cristão de Pesquisas, para nossa reflexão. Espero que gostem:

A Clonagem e a Ética Cristã
Por Jamierson Oliveira

De tempos em tempos, a fé e a religião são sacudidas por descobertas científicas que exigem dos crentes, principalmente de nós, cristãos evangélicos, uma revisão de nossos paradigmas e uma melhor interpretação das Escrituras. A clonagem é um exemplo recente disso. Por isso, convidamos nosso consultor, o cientista cristão Cléber Marcolan, com mestrado em biologia celular e estrutural, pela UNICAMP, e cursando doutorado em genética e biologia molecular na UFRGS, para nos esclarecer sobre o tema.

Como professor na Universidade Luterana do Brasil, ministra as seguinte disciplinas: biologia celular, histologia e embriologia. Como membro da Igreja Evangélica Luterana da Renovação (RS), serve como pregador e discipulador. Vejamos o que ele tem a dizer.

Defesa da Fé – O que é clonagem e em que ela difere da chamada clonagem terapêutica?

Cléber Marcolan – Clonagem é a técnica de retirar o núcleo de uma célula somática (embrionária ou adulta) e implantar em um óvulo sem núcleo para que um embrião possa ser desenvolvido com características genéticas iguais às do doador do núcleo. A chamada clonagem terapêutica é a tentativa de clonar somente órgãos ou tecidos isolados. Sua grande vantagem é que, ao transferir o núcleo da célula de uma pessoa para um óvulo sem núcleo, esse novo óvulo, ao dividir-se, gera, em laboratório, células potencialmente capazes de produzir qualquer tecido. Já a clonagem reprodutiva humana é a técnica pela qual pretende-se fazer uma cópia de um indivíduo. Nessa técnica, se o óvulo com esse novo núcleo começasse a se dividir e fosse transferido para um útero humano e se desenvolvesse, ter-se-ia uma cópia da pessoa de quem foi retirado o núcleo da célula. A diferença fundamental entre os dois procedimentos é que, na transferência de núcleos para fins terapêuticos, as células são multiplicadas em laboratório para formar tecidos, enquanto a clonagem reprodutiva requer a inserção em um útero.

Defesa da Fé – O Brasil já possui tecnologia para a manipulação dessas técnicas?

Cléber – Sim. Embora o Brasil esteja atrasado em muitos campos das ciências, aqui já existe tecnologia suficiente para manipular a clonagem em campo experimental. Já obtivemos várias plantas e animais clonados, principalmente no campo da reprodução animal.

Defesa da Fé – No caso da clonagem terapêutica, quais são as implicações éticas e religiosas?

Cléber – A grande discussão quanto à clonagem terapêutica está na obtenção de células potencialmente capazes de produzir qualquer tecido ou órgão e transplantá-los para milhares de doentes que aguardam nas filas de transplantes com doenças terminais. A questão mais difícil é a determinação sobre em que momento começa a vida. Assim, será que o blastocisto (embrião) já pode ser considerado um ser vivo ou somente no momento em que ocorre a formação do feto é que podemos dizer que há vida? Será que temos o direito de criar um embrião para servir de banco de células e não deixá-lo viver? Será que não seria sacrificar um ser para salvar outro? Estas são algumas das questões mais polêmicas com que estamos lidando.

Defesa da Fé – A possibilidade de cura de tantos males, na sua opinião, justifica essa técnica?

Cléber – Para mim, nada justifica a negação ao direito à vida. Se as técnicas de clonagem terapêutica conseguirem trabalhar com células-tronco sem ser necessário gerar um embrião para ser banco de células, sou a favor, caso contrário, posiciono-me contra.

Defesa da Fé – Só no Brasil, estima-se haver 30 mil embriões congelados, alguns prestes a serem descartados, o que tem provocado protestos veementes de diferentes setores. Qual é a sua opinião sobre esse quadro?

Cléber – Na minha concepção, embriões já são seres humanos. A questão de estarem congelados não muda esse fato. Assim, o descarte desses embriões é assassinato, pois no momento em que foram concebidos passaram a ter direito à vida. Muitas pessoas justificam o descarte de embriões dizendo que as mulheres, ou o casal, que forneceram o material são “donos” do embrião e, portanto, podem determinar seu destino, seja viver ou ir para o lixo. Partindo desse princípio, um casal poderia ser considerado inocente por assassinar uma criança de dois anos, por não a desejarem mais? Ora, sabemos que isso é inconcebível, considerado crime hediondo e totalmente bestial. Por que devemos ter outra reação quanto aos embriões?

Defesa da Fé – Outra polêmica diz respeito à chamada reprodução assistida, segundo a qual um casal infértil pode ter seu tão sonhado filho. Mas também há riscos. Poderia enumerá-los?

Cléber – As técnicas de reprodução assistida realmente tem seu lado positivo. Mas não podemos esquecer que, para uma tentativa de reprodução assistida, são fertilizados cerca de dez óvulos, dos quais alguns são utilizados para ver se um deles consegue implantar-se no útero materno. A chance é de um, ou no máximo dois, conseguirem a implantação. O restante é congelado e, posteriormente, será descartado. Se levarmos em conta a clonagem reprodutiva como ferramenta de auxílio na reprodução assistida, temos alguns problemas que devem ser considerados, tais como: o alto número de falhas e mortes entre recém-nascidos. Um clone também poderia mudar a dinâmica familiar de modos profundos e imprevisíveis. Neste momento, com o mercado negro de venda de embriões, casais estéreis poderiam comprar um embrião clonado roubado que, talvez, tivesse para ser descartado por ter riscos médicos. Se um bebê for clonado, seus cromossomos poderiam emparelhar com a idade do doador, significando que uma criança de cinco anos se pareceria com uma de dez, com potencial para desenvolver doenças do coração e câncer, entre outras.

Defesa da Fé – Diante de tão grande possibilidade de reprodução que estamos vivemos, não podemos, num futuro próximo, ter problemas sérios na estrutura familiar?

Cléber – Se levássemos em consideração que, com as técnicas de clonagem, há a possibilidade de um embrião ser gerado sem a participação masculina, com certeza teríamos uma desestruturação familiar. Isso traria complicações psicológicas enormes para uma criança, que seria praticamente filha de ninguém. Como seria tratada pela sociedade? Em uma sociedade como a nossa, onde tantas crianças já estão morando na rua por falta de pais responsáveis e onde milhares de abortos são realizados todos os dias, não há nada que justifique a clonagem reprodutiva.

Defesa da Fé – A recente aprovação da Lei de Biossegurança pelo Senado coloca o Brasil no temido mapa da clonagem humana?

Cléber – Não. A lei de Biossegurança aprovada permite apenas as pesquisas com organismos geneticamente modificados (transgênicos) e com células-tronco de embriões que estejam pelo menos há três anos congelados; não permite a pesquisa com clonagem reprodutiva. Defesa da Fé – É possível que a clonagem humana já tenha sido feita com sucesso clandestinamente?Cléber – A chance de uma clonagem humana ter sido feita é remota, pois as técnicas de clonagem ainda estão em fase de experimentação. Para obter a ovelha Dolly, o cientista Ian Wilmut fez 277 tentativas. De lá para cá, as técnicas se aperfeiçoaram, mas a dificuldade de obter um embrião humano clonado com sucesso ainda é grande. Mas descartar totalmente a possibilidade é ser cético demais. Médicos italianos estão anunciando a clonagem de três bebês, porém, até agora nenhuma prova foi dada.

Defesa da Fé – A clonagem reprodutiva será uma realidade no futuro?

Cléber – Tudo dependerá da sociedade. As técnicas de clonagem reprodutivas em humanos serão estabelecidas, com ou sem o apoio dos governantes ou da sociedade. Agora, a aplicação dessas técnicas será levada adiante somente se as pessoas considerarem algo normal ou natural, pois são os representantes da sociedade que formam o governo que poderão ou não regulamentar tais técnicas.

Defesa da Fé – Qual é a sua posição, como cientista cristão, diante de tanta polêmica?

Cléber – Como cientista, estou sempre aberto a novas descobertas e tecnologias. Creio que não devemos jamais cair novamente no obscurantismo medieval. Mas, como cristão, creio que devemos ter em mente que toda e qualquer ciência deve estar de acordo com a ética e a moral da Palavra de Deus. Assim, se uma tecnologia beneficiará a humanidade, deve ser bem aceita, desde que não fira o princípio de amor à vida. Creio que logo hão de ser desenvolvidas novas tecnologias em que não haverá necessidade de sacrificar embriões, como, por exemplo, a “terapia gênica”, quando os genes defeituosos nos próprios embriões poderão ser corrigidos, tornando-os aptos à vida.

Defesa da Fé – Alguns teólogos menos conservadores apontam para a criação de Eva como um exemplo de clonagem. O senhor concorda?

Cléber – Discordo totalmente. Se fosse uma clonagem no sentido biológico da palavra, teria de ser criado outro homem e não uma mulher, pois um clone é geneticamente igual à sua matriz. Isso é tentar dar força à técnica de clonagem utilizando uma exegese e uma hermenêutica distorcidas para a interpretação de um fato da Bíblia. Cientificamente, seria impossível Eva ser um clone, pois, então, quem teria fornecido o óvulo para ela ser gerada? Lilith? (segundo a tradição judaica, a primeira companheira de Adão).

Defesa da Fé – A igreja católica sempre se posiciona a respeito de temas como este. Que postura os evangélicos deveriam tomar?

Cléber – Creio que os evangélicos deveriam se posicionar sempre que algo envolvesse os princípios da Palavra de Deus. Assuntos polêmicos como este sempre têm dois lados. Devemos, primeiramente, estudá-los e somente então emitir um parecer.

Defesa da Fé – O senhor concorda com o bordão que diz: “a ciência está brincando de Deus”?

Cléber – Não. Deus nos deu inteligência. Não utilizá-la seria enterrar um talento que Ele nos concedeu. Agora, em todas as áreas, tanto da ciência quanto da filosofia e mesmo da teologia, existem os bem-intencionados e os mal-intencionados. A nossa tendência ao mal é conseqüência do pecado de Adão. Devemos saber administrar isso e, como a própria Bíblia diz, reter o que é bom.
Fonte:
http://www.icp.com.br/73entrevista.asp (Instituto Cristão de Pesquisas)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito desse artigo!!
Meu primo é mestrando em Genética e conversamos muito sobre este assunto!!
É muito importante que às pessoas se esclareçam, para poderem forma opnião com consciência.
No mais... 'concordo em gênero, número e grau' com o Dr. Cleber.